quarta-feira, 1 de junho de 2011

Indecisão


Antes de bater o sinal do primeiro horário, caminhando pelo calçadão da área interna do colégio, aquele rapaz pensara como havia perdido a chance de dizer algo valioso. Não era nem a notícia do salário do mês que tanto importava para relatar uma das novas fases que estava vivendo – afinal de contas, a maioria dos adolescentes quando trabalham pela primeira vez de carteira assinada sente o gosto de liberdade financeira e a ousada impressão de ser gente adulta – mas, era uma revelação à amiga, quase namorada, a qual o deixara inibido sem força para falar. Amiga, por que era assim que costumava tratá-la. Eram super compatíveis, tinham as mesmas preferências e maluquices, fãs da área de exatas, assistiam seriados americanos, ligavam um para o outro, todos os dias para no mínimo dialogarem sobre as rotinas pessoais. Ela contava seus segredos, medos e sonhos para ele. O mesmo ouvia-a, aconselhava-a com tom passivo e intelectual, de vez em quando simulava chorar só para denotar cumplicidade nas horas difíceis. Opinava sobre as vestes que combinavam e ornamentavam a beleza dela, falava mal do cabelo e até das fotos do Orkut, principalmente as que ele estava presente, fazendo juntos caras e bocas, bicos e poses. Amigos, irmãos, fingiam até serem namorados um do outro só para espantar os pombos sujos dela e as desesperadas dele. Uma união confusa, pois muitos diziam para ele que "ambos namoravam mesmo" e não revelava o segredo para “comer calado”. Da parte dela, as mais chegadas botavam defeito nele, só porque não tinha um corpo atlético como de alguns meninos do Terceiro ano, usava um óculos bizarro e o que o salvava era o cabelo liso jogado na testa, os olhos castanhos claros, tirando as espinhas acentuadas do rosto. Mas, ela não o via desse jeito, a aparência estética, e sim a parte de dentro que o  embelezava. Divertido, inteligente, sagaz, contador de histórias dos seriados das mais intrigantes até as curiosas edições, aquele jovem era especial no conceito dela. Ouvia os comentários das amigas e não se importava. Ele não gostava como os colegas maliciosamente inferiam sobre o suposto namoro escondido que o mantinha para o circulo de amizade. Mas, no fundo do mais profundo do ser daquele jovem, havia um sentimento por ela indecifrável, confuso, bom, mas perigoso. Todos os dias se comunicavam pelo telefone, ou MSN, ou Orkut, ou facebook, enfim, era impossível ficar sem saber um do outro.
De manhã, antes de levantar da cama, aquele jovem acordou estranho. Sonhou com ela, beijando-a. Parecia real, mas doce ilusão do sonho.
- Afff... Sonhos são sonhos! – Desiludido resmungou.
Foi para o colégio, faltavam cinco minutos para bater o sinal, ele a vê, acena de longe, ela reciprocamente faz o mesmo gesto. De repente, uma louca vontade de falar do sonho. Pensa infinitas vezes se ia ou não. Foi.
- Oi! Tudo bem?!
- Sim! E você?
- Mais ou menos... É que preciso falar com você.
- Estou atrasada, pode ser durante o intervalo?
- Pode... Não! Não vou conseguir esperar tanto tempo para lhe conta o que aconteceu... Preciso da sua ajuda!
- Vixi... Calma... O que houve de tão sério!?
-Não sei se você vai me entender, mas...
- Fala menino, oxe, oxe... Deixa de bestagem! – Ela sorriu desapercebidamente do tom de seriedade dele.
Ele riu com um jeito sem graça. Olhou para as colegas que esperavam atrás dela. Encantado com o sorriso dela queria parar o tempo só para estar pertinho da sua: “amiga ou nova paixão?” – Indagou-se.
- Sabe de uma!? Nada não, depois falo contigo... Foi mal ter tomado seu tempo!
Ela deu gargalhadas, abraçou-o e disse:
- De manhã cedo você vem e me assusta e anima assim espontaneamente?! Você é de mais! Te amo amigo... Depois a gente se fala.
Ele a vê, correndo para dentro do colégio, contemplando-a, a única imagem que restara daquele momento: um sorriso perfeito de aparelho daquela loirinha quase namorada. Bate o sino do primeiro horário, aquele rapaz descobriu que não será mais o mesmo depois daquele sonho.



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